terça-feira, 7 de setembro de 2010

Treinamento de sensibilização

Boa noite a todos.

Outro dia eu falei sobre uma forma de se pegar ônibus de graça, hoje vou falar de um treinamento de sensibilização que eu fiz há algumas semanas.

A empresa nos obrigou a fazer ofereceu um treinamento de sensibilização para com os portadores de deficiência. Eu juro que tentei me manter sério... mas não deu.

Caezinhos são sempre mais bonitos que pessoas.
No começo, foram apresentados alguns dados interessantes e que eu duvido que tenham sido calculados... por exemplo: 10% das pessoas no estado de São Paulo são portadoras de algum tipo de deficiência física. É aquela coisa... olhe nove amigos seus... se nove parecerem normais, você deve ter algum problema.

Mas depois, veio a sensibilização de fato... tinha um cara lá brincando na cadeira de rodas e olhou para a minha turma que estava fazendo o treinamento... e perguntou quem queria a cadeira... Eu já fui logo tirando o cara de lá, falando que eu iria pegar a cadeira de rodas, sentando e entortando as perninhas. Fui advertido de que quem pegasse a cadeira de rodas deveria descer até o palco com ela. Havia uns dois ou três degraus. O resto do pessoal que estava comigo se fodeu. Teve uns três que pegaram uns óculos jateados com areia, para simular a perda parcial da visão e outros que pegaram uns abafadores, para simular um surdo.

O objetivo dessa putaria toda era todo mundo ir tomar um café... Porque se a cada 10 pessoas, uma tem deficiência, é extremamente natural, entre 7 pessoas, termos 7 deficientes. Eu observei comovido à cena dos surdos guiando os cegos para a mesa... mas não sou um bom samaritano e decidi me acomodar à mesa antes deles.

Exemplo de deficiente mental.
Quando o cego foi pegar as bolachas os biscoitos, eu percebi que se eles pegassem, iam acabar com tudo e eu não ia conseguir comer mais... Tocado pelo meu espírito de bondade, decidi favorecer ao próximo: meu estômago. Rapidamente, puxei a vasilha com as bolachas os biscoitos para longe do cego, enchi um copo com suco e passei a observar a cena que se passava ante meus olhos... sentado.

A moça do treinamento perguntou ao cego: "Você quer suco?". O cara respondeu que sim. A moça então falou para ele pedir suco para o cara... O cego pediu. O cara entendeu e colocou suco para o cego. A moça perguntou: "Espera aí. Você gosta de suco de goiaba?". "Não", respondeu o cego, rapidamente. A moça então disse: "Então fala pra ele". E o cego falou... mas o cara com quem ele estava falando era surdo... eu comecei a rir... Sem ajudar.

Acabou o tempo e tivemos de devolver nossas deficiência aos organizadores do curso. Antes disso eu perguntei se realmente tinha de descer os degraus. A moça me disse que não, porque isso era antes do café e tal. Não me dando por contente, fui tentar descer os degraus mesmo assim... quando cheguei perto, ouvi a moça gritar: "Gente, pelo amor de Deus!!! Ele vai tentar descer mesmo!!! Segurem ele!!!". Isso pareceu bastante encorajador.

Como até então eu havia pilotado a cadeira com exímia destreza, pensei que não teria problemas. Até que eu cheguei de frente com os degraus... Eu sei que quando se está sozinho, deve-se descer os degraus com uma cadeira de rodas de costas para o degrau. Isso mesmo, de ré. Mas dado o tamanho do degrau e das rodas da cadeira, eu acho que se eu tentasse, iria acabar definitivamente precisando de uma cadeira para mim. Para sempre. E decidi não descer.

Direitos iguais.
Devolvi a cadeira e voltei a andar. A moça do treinamento perguntou o que achamos. Bom... da minha parte, eu achei o treinamento divertido... mas respondi que a sensação foi horrível. A mulher perguntou porque... se eu estava pilotando tão bem... eu disse que não consegui descer os degraus... Aí ela continuou dando alguns conselhos, que eu provavelmente teria feito o contrário se ela não tivesse me avisado. Segue para vocês:

* Cegos também usam verbos como "ver", "enxergar"
* Ao falar com um surdo, você pode falar como você falaria com qualquer outra pessoa. Falar rápido demais ou devagar demais, altera a forma como você mexe a boca, dificultando a leitura labial.
* LiBraS (Linguagem Brasileira de Sinais) é o segundo idioma oficial do Brasil (não é um conselho, mas eu achei uma informação legal)
* Não se apóie ou fique amontando coisas nas cadeiras de rodas dos paraplégicos/tetraplégicos. Especialmente se eles estiverem utilizando-as. Uma vez que o sujeito passa a depender da cadeira para locomoção, a cadeira passa a fazer parte do corpo da pessoa e não é legal se alguém ficar se apoiando em você na rua, não é verdade? Observações do tipo: "segura isso aqui pra mim, você não sente as pernas mesmo, não vai se incomodar com isso..." também não são legais.
* Muletas, assim como cadeira de rodas, são parte do corpo da pessoa e não é legal você chegar num teatro ou cinema e falar: "Vou tirar essa porcaria daqui e colocar ali do lado porque está atrapalhando. Se você precisar, você fala pra mim que eu pego.". Vai ser um saco para o manco pedir para você pegar, caso ele precise ir ao banheiro e vai ser um saco para você ir lá pegar também. Ninguém também vai se lembrar de ir buscar as muletas caso o lugar pegue fogo. Apesar da seleção natural cumprir o seu papel.

Confesso que ri muito quando ela falou dos dois últimos. Depois disso ela botou um vídeo de um cara que não tem os braços e tocou violão para o Papa João Paulo II. Embora o vídeo fosse sério e devesse soar como lição de vida, eu não aguentava quando ele falava: "Elle no tiene los brazos!!!"

Acompanhem o video abaixo.



Moral da história: vigiem seus filhos e não deixem que se transformem em professores mortos de fome.


A figurinha do inferno não poderia faltar. Tanto pela história quanto pela moral.

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