domingo, 12 de setembro de 2010

Atropelando e sendo atropelado

Boa noite a todos.

Em primeiro lugar, estou chateado com o desempenho do blog... Tirando algum desocupado que votou nas reações ali embaixo, ninguém comenta... eu me sinto um retardado escrevendo para ninguém... Se bem que esse era o propósito inicial do blog.

Enfim... como alguns já sabem, eu já fui atropelado uma vez... Embora um amigo meu costume dizer que fui eu quem atropelou o carro.

Deve ser legal ter um carrinho desses
Então... não me lembro ao certo em que ano foi, mas o ano começou muito mal para mim... acho que foi 2005... Já comecei o ano tomando um pé na bunda. Sim, era mais ou menos 00:30, quando eu liguei para dar feliz ano novo e praticamente ela me disse: "será muito feliz, já que estou começando sem você". Não, ela não foi tão sem coração assim... mas foi algo assim.

Eu me lembro que era lançamento do filme O Senhor dos Anéis, alguma das edições. E fomos eu e mais dois amigos para Itu (porque Porto Feliz é uma bosta e não tem cinema). Como eu não tinha habilitação ainda, fomos de ônibus para lá e como éramos muito pães-duros (existe plural para essa expressão??), não pagávamos um real pela passagem dentro de Itu e andávamos a pé por mais de um quilômetro.

Assistimos ao filme e fomos embora. Andamos essa distância toda bem lentamente para pegar o ônibus sóóóóó na próxima hora. Mas, aconteceu que um dos caras viu que tinha um ônibus saindo e disse que se corrêssemos, poderíamos pegar aquele. Não gostei da idéia, mas fui no embalo.

Ele atravessou a rua correndo e eu, ignorando o que minha mãe sempre me ensinou de olhar para os dois lados para atravessar, fui no embalo. Não deu. A hora que eu olhei para a esquerda, tinha um jipinho da Kia vindo... ele freou e tal... a hora que eu vi, eu tentei parar, mas a inércia jogou meu corpo para a frente. A única coisa que eu tive tempo de tentar fazer foi botar o braço na frente do rosto para não estragar mais ainda a minha cara.

Dói na hora.
Foi o soco mais forte que eu já tomei na vida. Além de me jogar para trás, eu vi tudo ficando branco e eu pensei que fosse desmaiar. Até que eu me dei conta de que estava caindo. Botei a mão no chão antes de cair,  me levantei e fui correndo em direção ao ônibus. Lembro-me bem daquele dia. Passei a mão no nariz para ver o estrago e vi minha mão com uns pedacinhos de carne (ou ranho) e muito sangue.

Quando o cara conseguiu parar o carro, eu falei para ele ir embora e pedi desculpas, afinal, a culpa era minha. Foi tudo muito rápido. Enquanto eu corria para o ônibus, esse amigo meu voltava na direção do carro. A única coisa que eu pensei é que ele daria um chute na porta, iria arrebentar quem estivesse no carro e nós seríamos presos e não saíriamos dali antes das dez horas da noite. Eu gritei para ele não ir lá, já que a culpa era minha... Aí ele calmamente me disse: "Não, seu imbecil!!! Eu estou indo pegar as suas coisas que estão todas jogadas na rua..."

Beleza. Ele pegou, o busão tava quase saindo... quando eu comecei a bater na porta com a mão toda ensanguentada. Para o motorista, devia ser algum filme de terror. Subi no ônibus e virei a atração do momento. O cobrador olhava para mim sem piscar... eu paguei e ele nem se ligou em devolver o troco, até que eu cobrei. Minha cara doía e meu nariz pingava sangue pelo chão. E eu ainda estava tonto. As pessoas olhavam para mim e quando eu olhava para elas, elas viravam a cara. Quanta bondade!

O cobrador perguntou ao meu amigo se eu havia levado uma surra. "Que nada... ele acabou de ser atropelado...", respondeu o meu amigo com toda a tranquilidade do mundo. O cobrador ficou ainda mais assustado. Mas depois disso teve uma boa alma que deu um saco de lencinhos de papel para eu tentar estancar o sangue.

Um outro passageiro, comovido com a situação, me deu um lenço branquinho, que eu agradeci e deixei todo vermelho. Também perguntou se eu apanhei, eu disse que não. Ele então começou a me contar histórias da vida dele, de bebedeira e acidentes de trânsito. Não que me interessasse, mas estava divertido. No final eu ainda devolvi o lenço para ele. Sim, sou filho da puta.

Devolvo um lenço cheio de sangue para um estranho... Ele com certeza não vai usar de novo. Mais alguns aninhos no inferno.
Quando minha mãe perguntou o que houve, eu disse que caí na escada do cinema. Não sei porque, mas pareceu uma boa idéia. Disse qualquer coisa como descer a escada correndo e pisar numa garrafa PET jogada por lá e ver tudo girando.

No final do ano (sim, quase um ano depois), eu contei para ela que na verdade eu tinha sido atropelado. Ela chorou.

Moral da história: Sempre olhe para os dois lados e nunca minta para a sua mãe.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Treinamento de sensibilização

Boa noite a todos.

Outro dia eu falei sobre uma forma de se pegar ônibus de graça, hoje vou falar de um treinamento de sensibilização que eu fiz há algumas semanas.

A empresa nos obrigou a fazer ofereceu um treinamento de sensibilização para com os portadores de deficiência. Eu juro que tentei me manter sério... mas não deu.

Caezinhos são sempre mais bonitos que pessoas.
No começo, foram apresentados alguns dados interessantes e que eu duvido que tenham sido calculados... por exemplo: 10% das pessoas no estado de São Paulo são portadoras de algum tipo de deficiência física. É aquela coisa... olhe nove amigos seus... se nove parecerem normais, você deve ter algum problema.

Mas depois, veio a sensibilização de fato... tinha um cara lá brincando na cadeira de rodas e olhou para a minha turma que estava fazendo o treinamento... e perguntou quem queria a cadeira... Eu já fui logo tirando o cara de lá, falando que eu iria pegar a cadeira de rodas, sentando e entortando as perninhas. Fui advertido de que quem pegasse a cadeira de rodas deveria descer até o palco com ela. Havia uns dois ou três degraus. O resto do pessoal que estava comigo se fodeu. Teve uns três que pegaram uns óculos jateados com areia, para simular a perda parcial da visão e outros que pegaram uns abafadores, para simular um surdo.

O objetivo dessa putaria toda era todo mundo ir tomar um café... Porque se a cada 10 pessoas, uma tem deficiência, é extremamente natural, entre 7 pessoas, termos 7 deficientes. Eu observei comovido à cena dos surdos guiando os cegos para a mesa... mas não sou um bom samaritano e decidi me acomodar à mesa antes deles.

Exemplo de deficiente mental.
Quando o cego foi pegar as bolachas os biscoitos, eu percebi que se eles pegassem, iam acabar com tudo e eu não ia conseguir comer mais... Tocado pelo meu espírito de bondade, decidi favorecer ao próximo: meu estômago. Rapidamente, puxei a vasilha com as bolachas os biscoitos para longe do cego, enchi um copo com suco e passei a observar a cena que se passava ante meus olhos... sentado.

A moça do treinamento perguntou ao cego: "Você quer suco?". O cara respondeu que sim. A moça então falou para ele pedir suco para o cara... O cego pediu. O cara entendeu e colocou suco para o cego. A moça perguntou: "Espera aí. Você gosta de suco de goiaba?". "Não", respondeu o cego, rapidamente. A moça então disse: "Então fala pra ele". E o cego falou... mas o cara com quem ele estava falando era surdo... eu comecei a rir... Sem ajudar.

Acabou o tempo e tivemos de devolver nossas deficiência aos organizadores do curso. Antes disso eu perguntei se realmente tinha de descer os degraus. A moça me disse que não, porque isso era antes do café e tal. Não me dando por contente, fui tentar descer os degraus mesmo assim... quando cheguei perto, ouvi a moça gritar: "Gente, pelo amor de Deus!!! Ele vai tentar descer mesmo!!! Segurem ele!!!". Isso pareceu bastante encorajador.

Como até então eu havia pilotado a cadeira com exímia destreza, pensei que não teria problemas. Até que eu cheguei de frente com os degraus... Eu sei que quando se está sozinho, deve-se descer os degraus com uma cadeira de rodas de costas para o degrau. Isso mesmo, de ré. Mas dado o tamanho do degrau e das rodas da cadeira, eu acho que se eu tentasse, iria acabar definitivamente precisando de uma cadeira para mim. Para sempre. E decidi não descer.

Direitos iguais.
Devolvi a cadeira e voltei a andar. A moça do treinamento perguntou o que achamos. Bom... da minha parte, eu achei o treinamento divertido... mas respondi que a sensação foi horrível. A mulher perguntou porque... se eu estava pilotando tão bem... eu disse que não consegui descer os degraus... Aí ela continuou dando alguns conselhos, que eu provavelmente teria feito o contrário se ela não tivesse me avisado. Segue para vocês:

* Cegos também usam verbos como "ver", "enxergar"
* Ao falar com um surdo, você pode falar como você falaria com qualquer outra pessoa. Falar rápido demais ou devagar demais, altera a forma como você mexe a boca, dificultando a leitura labial.
* LiBraS (Linguagem Brasileira de Sinais) é o segundo idioma oficial do Brasil (não é um conselho, mas eu achei uma informação legal)
* Não se apóie ou fique amontando coisas nas cadeiras de rodas dos paraplégicos/tetraplégicos. Especialmente se eles estiverem utilizando-as. Uma vez que o sujeito passa a depender da cadeira para locomoção, a cadeira passa a fazer parte do corpo da pessoa e não é legal se alguém ficar se apoiando em você na rua, não é verdade? Observações do tipo: "segura isso aqui pra mim, você não sente as pernas mesmo, não vai se incomodar com isso..." também não são legais.
* Muletas, assim como cadeira de rodas, são parte do corpo da pessoa e não é legal você chegar num teatro ou cinema e falar: "Vou tirar essa porcaria daqui e colocar ali do lado porque está atrapalhando. Se você precisar, você fala pra mim que eu pego.". Vai ser um saco para o manco pedir para você pegar, caso ele precise ir ao banheiro e vai ser um saco para você ir lá pegar também. Ninguém também vai se lembrar de ir buscar as muletas caso o lugar pegue fogo. Apesar da seleção natural cumprir o seu papel.

Confesso que ri muito quando ela falou dos dois últimos. Depois disso ela botou um vídeo de um cara que não tem os braços e tocou violão para o Papa João Paulo II. Embora o vídeo fosse sério e devesse soar como lição de vida, eu não aguentava quando ele falava: "Elle no tiene los brazos!!!"

Acompanhem o video abaixo.



Moral da história: vigiem seus filhos e não deixem que se transformem em professores mortos de fome.


A figurinha do inferno não poderia faltar. Tanto pela história quanto pela moral.